O Valdemiro
Era ainda jovem, talvez uma dúzia de anos mais velho do que eu. Vagueava pelo lugar e pelos campos sem destino, quase sempre seminu.
Gostava de socializar connosco, os mais novos. Aproximava-se sempre com um sorriso estúpido, a babar-se, e ali ficava, sem outro objectivo que não fosse, simplesmente, estar ali.
Morava com a mãe e os irmãos no sítio designado Cômoro e era certo que à hora das parcas refeições aparecia em casa.
Um dia não regressou, nem no outro, nem no outro… Em vão foi procurado pelo lugar e pelas aldeias circunvizinhas.
Uma tarde ouviu-se um chamamento vigoroso vindo das encostas da Fraga que ressoava lugubremente pelo estreito vale…
–Tragam lençóis que apareceu o Valdemiro morto! ... … … …
Alguém tinha encontrado o corpo do desditoso jovem na serra, no sítio de Chão da Lama, diziam que estava de bruços, com a boca cheia de ervas, certamente por ter tentado em vão alimentar-se como os animais…
Ainda tentaram transportá-lo para o Lugar para evitar as sempre inconvenientes formalidades legais. Mas o sítio em que apareceu morto já se situava no termo da Gave, concelho de Melgaço e alguém avisou que era imprudente proceder à revelia das autoridades.
Não voltou para Cavenca.
Na Gave acolheram-no como se fosse um desígnio superior e deram-lhe guarida no espaço reservado aos seus mortos.
Enquanto pôde, a Tia Maria do Chico lá ia colocar umas singelas flores e rezar umas orações… como se ele precisasse…
Do autor
Velhos conhecidos
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