Ouvia em pequeno esta fábula, encantado, do tempo em que os animais falavam. Como não havia televisão, nem internet, nem consolas de jogos, nem cafés, nem … , o tempo decorria de outro modo e conversar, contar contos, falar das coisas do dia a dia, era uma forma de estabelecer laços e divulgar cultura. Esta era uma jóia da sabedoria popular que se transmitia de geração em geração, exclusivamente pela via oral.
Então é assim:
Certo dia, estava um imponente galo empoleirado no alto de uma esguia cerejeira, todo vaidoso, a exibir os seus dotes de grande cantador, com que pretendia impressionar as galinhas das redondezas.
Pelas imediações vagueava a matreira raposa, à procura de almoço, e ao ouvir os estridentes sons do cantador logo pensou que a refeição estava próxima e tentou aproximar-se sorrateiramente para surpreender o emplumado galináceo.
Porém, quando viu que o seu alvo estava inacessível, tratou de urdir um estratagema para ver se ludibriava o tagarela.
Então, como quem não quer a coisa, a raposa pôs em marcha o seu astucioso plano.
– Bom dia amigo Galo, então, já sabe da novidade?
– Novidade? - Ripostou o Galo – Mas que novidade?
– Então – disse a Raposa – foi publicado um decreto real em que se determina para todos os animais serem amigos e conviverem em paz e harmonia.
– Ah! – exclamou o Galo – Não sabia… E já entrou em vigor?
– Já. - Respondeu a raposa – Desce cá para baixo que vamos passear e conversar como bons amigos…
– Pois… eu descia… mas estou a ver que vêm aí dois enormes mastins e parece que não trazem cara de bons amigos…
– Ah… pois é… e eu também estou cheia de pressa, vou indo… adeus…
E assim, o astuto canídeo se foi afastando “de fininho”, não fosse ficar com o casaco esburacado pelas poderosas dentuças dos seus parentes domésticos.
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Velhos conhecidos
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